segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Quando dois mais dois não são quatro




21 Fev 2011 10:38pm
Um espectáculo desportivo com alguns dos melhores praticantes do mundo pode não atrair muito público. Mas por vezes a qualidade dos intervenientes e o interesse dos espectadores andam de mãos dadas. Foi o que sucedeu mais uma vez – sublinhe-se o “mais uma vez”, porque tem sido regra e não excepção – com a recente Volta ao Algarve. O luxuoso pelotão chamou às estradas algarvias milhares de pessoas, com especial incidência nas chegadas a Albufeira, Tavira e Portimão.
Se prevalecesse a lógica, um acontecimento como a Volta ao Algarve, que tem qualidade e que tem público, teria suscitaria o interesse de mais do que um canal de televisão. Só que temos visto o contrário. Um dos principais eventos desportivos do país fica quase na clandestinidade televisiva. Ano após ano vemos, ouvimos e lemos o director da corrida, Rogério Teixeira, lamentar a falta de apoios para juntar os 250 mil euros necessários para um directo televisivo das cinco etapas. Compreende-se e aplaude-se o voluntarismo do presidente da Associação de Ciclismo do Algarve. Mas este comportamento desesperado só surge porque há algo que não faz sentido no negócio das transmissões.
Se alguém tem a ganhar com a transmissão de um espectáculo de qualidade com público garantido é o canal que garantir os direitos. Que sentido faz ser o organizador da corrida a angariar o dinheiro necessário para a produção televisiva? Em qualquer área, as cadeias de televisão compram direitos de transmissão e depois tratam de financiar a compra e garantir a margem de lucro. Por que raio no ciclismo há-de ser diferente? Por que carga de água a organização da corrida deve oferecer os direitos e ainda pagar os custos da produção?
É bem verdade que o Turismo de Portugal só teria a ganhar com a difusão internacional da Volta ao Algarve e que, por isso, está a falhar. Mas também estão em falta os operadores de televisão, que fecham os olhos ao potencial desta corrida enquanto espectáculo televisivo. E a principal falha é destes.
Enquanto não mudarem mentalidades, dois e dois parece que nunca mais somam quatro. E uma corrida que poderia ser de massas, acaba por ser seguida apenas pelos adeptos mais indefectíveis da modalidade, aqueles que têm paciência para esperar pelo resumo que há-de dar um dia destes na RTP2, os que descobriram os compactos da Digital Mais TV e os que foram seguindo as incidências da prova pelo Jornal Ciclismo.
Orgulhamo-nos de ter muitos leitores ao longo do ano e de batermos recordes a cada Volta ao Algarve que passa. Neste ano, o Jornal Ciclismo recebeu 57.264 visitas e somou 157.108 páginas vistas ao longo dos cinco dias da corrida. Mas preferíamos que parte desta audiência só nos visitasse para complementar a informação recebida em directo via TV. Só que, enquanto dois e dois não somarem quatro, isso não vai suceder.

Sem comentários:

Enviar um comentário